Brasilia dia 6…
Episodio de hoje: não importa onde se vá, é sempre morro acima e contra o vento.
O dia começou com o mesmo índice de humidade do dia anterior mas com um componente prejudicial, a direção do vento. Como no primeiro dia, ele estava entrando de SE que é vento contra pra quem vai para Brasilia.
A comissão de prova estava discutindo se estabelecia uma prova para os lados de São Gabriel no intuito de aproveitar o empurrão do vento, eu pessoalmente estava muito afim de terminar a temporada de vôos no cerrado com mais um pouso na esplanada.
Mais uma vez montei e fui assistir a largada da prova que acabaria por evidenciar a primeira dificuldade do dia, as térmicas no vale estavam fracas.
Praticamente todo o grid teve dificuldades para ganhar altura depois da decolagem e lá pelas 12:45 todos haviam decolado e por mais incrível que possa parecer o vento tinha parado. Dada a altitude em relação ao nível do mar, as decolagens só ocorrem na presença de vento caso contrário a asa não sai do chão. Na esperança de que o vento retornasse logo me preparei e engatei na asa mas seriam mais 45 minutos antes que o vento entrasse com pressão o suficiente na rampa para permitir decolagens novamente.
As 13:45 o vento voltou a soprar forte no cerrado e consegui decolar com um grupo de asas que estava esperando na rampa, estava tarde e eu estava ficando preocupado, com térmica fraca e contra-vento chegar em Brasilia não seria fácil.
Condições de vôo fracas são especialmente estressantes pois todos os pilotos vão girar a mesma térmica. São umas 40 asas girando juntas, um monte no mesmo nível que você, outro monte em cima, mais uns em baixo e uma meia dúzia querendo entrar para girar térmica com a turma. Um repórter assistindo do solo chegou a comparar o evento a um famoso video do transito da índia onde um monte de veículos fazem conversão em um cruzamento mas ninguém bate.
Voltando ao vôo, a termal era realmente muito fraca mas consistente, estava levando a galera pra cima mas muito devagar e pior na direção contrária a Brasilia. A medida que ia subindo algumas asas escorregavam, outras abandonavam e outros simplesmente resolviam seguir viagem da altura que estavam me dando algum espaço para girar sem ter que me preocupar com o tráfego.
A 3000m resolvo que aquela térmica já rendeu o que tinha de render e saio na direção de Brasilia porem estava muito dentro do vale e só a distância de volta a rampa era uma tirada considerável.
Por causa da condição fraca tive receio de cair no vale então resolvi jogar pra cima do planalto para, caso não conseguisse evoluir mais nada, pelo menos facilitar o resgate.
Apesar da condição estar fraca as térmicas eram abundantes, peguei outra bolha atras de rampa, perto da rodovia br-020, que me colocou em 3000 novamente e fui seguindo viagem mas dessa vez não usei a rota "faca nos dentes" dos dias anteriores, fui mais conservador acompanhando a br-020.
A estratégia mais conservadora e a condição fraca acabaram por produzir 2 efeitos adversos no vôo. O primeiro era o atraso, a falta de vento me obrigou a decolar tarde 13:45, as térmicas fracas me impediram de evoluir mais rápido, nos outros dias chegava em planaltina as 14:30, nesse dia cheguei as 15:30. O outro era o desgaste, voar no contra-vento era um exercício de paciência, tirava por 15 km e a deriva da próxima térmica me fazia retroceder 5km.
Nesse ritmo de 3 pra frente 1 pra trás fui voando. Fazenda JL, trevo de planaltina, posto texaco-advance, reserva.
Chegando em Sobradinho olhei para o relógio que indicava 16:30, estava quase em Brasilia mas também totalmente esgotado, avaliei seriamente a opção de continuar e não ter força pra comandar a asa no pouso ou abandonar o vôo em sobradinho e pousar ainda com açúcar no sangue o suficiente para manter a qualidade de minhas decisões e optei por pousar.
Fui resgatado as 17:15 e fomos para a cerimónia de encerramento do campeonato de Brasilia.
Nesse dia precisei de 2 dorflex pra dormir sem gemer de dor nos braços.
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