Chegamos tarde na rampa, o que seria apontado como a causa de um dos vôos mais agoniantes que já tive.
Chegamos as 11:30 na rampa, muito tarde para pegar o vôo certo. Até as 12:30 estava entrando um norte com pressão e pequenos cúmulos se formavam ao horizonte, todo mundo olhava e dizia, é hoje que vamos pra campinhas!
Montei o mais rápido que uma criança de 2 anos querendo atenção permitia mas infelizmente quando estávamos prontos o vento tinha virado de Noroeste. A pressão das térmicas ainda fazia o vento entrar de norte mas não sustentava nem os parapentes quando mais as nossas asas.
Ronaldão resolveu decolar e tentar se agarrar em alguma bolha no lado norte mas infelizmente não durou nem 2 minutos no ar o que desanimou o resto dos pilotos na rampa.
Até quase as 14:00 ninguém decolava pois seria chão na certa enquanto isso o céu e suas formações se tornavam mais e mais belos a medida que o dia ia se desenrolando, e nós presos ali na rampa sem poder decolar.
Exatamente as 14:40 o sol começou a aquecer o lado sul, forçando as bolhas a se desprenderem e fazendo o vento virar para sul na decolagem.
Comecei a desenhar o vôo na minha cabeça como uma aposta, o vento passado por cima da rampa de NO não ia nos deixar subir tão fácil assim para a parte de cima da cordilheira a menos que conseguíssemos decolar de sul e passar para o lado norte. Era uma condição parecida com a do feriado de pascoa exceto que estavamos no inverno, termicas mais fracas, pouca insolação, aquilo de praxe.
Bom, antes que a decolagem se deteriorasse novamente coloquei a asa no ombro e decolei (era pra ser o Fabiano hoje mas resolvi ir primeiro)
Fui direto para o pouso sul onde uma coluna de urubus mostrava uma evolução satisfatória, ela realmente subia com vontade mas a deriva era muito forte na direção da montanha e quanto mais se aproximava dela mais fraca a mesma ficava.
Demorou uma eternidade para ficar meia dúzia de palmos acima da cordilheira quando tentei a primeira cruzada mas afundei igual uma bigorna pra baixo da montanha.
Na minha segunda tentativa me afastei para depois do pouso sul pra tentar subir outra vez. Subi bem mais que da primeira mas quando tentei cruzar a cordilheira, novamente fui pra baixo e voltei com o rabo entre as pernas.
Nesse meio tempo o Daniel, decolou, engatou em uma na cara da rampa e derivou pra cima dela passando para o lado certo, passei o resto do vôo ouvindo ele dizendo que estava na base da nuvem.
Na terceira tentativa ganhei e fui em direção a rampa na esperança de que o que quer que tenha levado o daniel pra cima fizesse o mesmo comigo. Cheguei na rampa pouco acima da altura dela, havia uma sustentação boa mas não passava disto.
Depois de 1:30 com os braços doendo me entreguei e pousei
Foi uma ótima luta de onde não sai vitorioso mas o aprendizado foi valiosíssimo, da próxima vez acordar cedo!
Hoje domingo amanheceu uma ventaca de noroeste que nem me animei a subir, as previsões de chuva em são paulo aliado a retorno do feriado me fizeram optar por retornar cedo para casa.
Fui!