quinta-feira, 17 de junho de 2010

Lembranças do iniício do vôo livre - parte III

A terceira, última e mais ávida lembrança do inicio do vôo livre vem de alguns meses após minha formatura como piloto.

Nesta fase o recém formado, o piloto realiza mais de 1 vôo por dia e voa todos os dias que pode, é como um vício que toma conta da cabeça da gente de tal forma que você relembra constantemente os vôos passados e anseia pelos próximos, nos tornamos pessoas chatas pois o único assunto que falamos dia e noite é voar!!!

Pois bem era um dia de sudoeste em São Conrado, inverno poucas térmicas, decolagem tranqüila, basicamente uma decida divertida como diria minha mulher, Lá pelas tantas sobrevoando a praia do pepino, noto um objeto pontudo estranho de cor azul na minha esquerda, eu olho fixamente para ele sem entender o que era aquilo.

Que merda é essa pensei comigo. Era comprido e azul, e parte dele estava acima de mim, fui seguindo com os olhos até que me dei conta de que... poha era a minha asa...

Na época achei engraçado e fiz piada do meu, “retardamento” mental por assim dizer. Alguns anos mais tarde quando assistia uma reportagem sobre o poder da mente humana e mais recentemente lendo o post do Edu lembrei do episódio da mesma forma.

Eu tinha abstraído a asa de tal forma que cheguei realmente a acreditar que era capaz de voar sem asas...

Acho que estou precisando voar... ☺

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Lembranças do inicio do vôo livre - parte II



A segunda lembrança do início do voo livre aconteceu proximo de me formar piloto. Nessa época eu estava decolando do morro de 120m, aprendendo a fazer curvas, alinhar para pouso e outras coisas que garantiriam minha sobrevivencia no voo livre.

Minha mãe (eu ainda não era casado) é uma pessoa muito religiosa e na época ela me deu um cordão com a imagem de são jorge para "proteção", que eu usava praticamente a toda hora, só tirava para dormir.

Aconteceu que num desses sabados de aula de voo, eu acordei muito cedo para pegar a atmosfera mais calma e esqueci o cordão na mesa da sala.

Chegando no morrote a condição estava marginal, o vento entrava de frente na maioria do tempo mas de vez em quando virava de cauda. Ficamos no pé do morro naquela de vamos, não vamos, vamos, não vamos quando tive a infelicidade de soltar para meu instrutor a perola do dia que levou a lembrança em questão.

"Puta cara acho melhor não, eu esqueci o cordão de são jorge que minha mae me deu".

Ricardinho (meu instrutor) me olha com uma cara de "como é que é?!?!?!"

No minuto seguinte a asa esta em cima do carro e estamos a caminho da rampa, chega lá condição na mesma, vento de frente com rajadas e cauda de vez em quando, asa montada ele me manda colocar o cinto e engatar na asa e eu com o c* na mão por causa da falta do cordão.

Com o pé na rampa ele me pergunta

ele - a condição de decolagem esta certa? o vento esta de frente?
eu  - Sim

ele - asa nivelada, bico baixo, piloto engatado?
eu  - sim

ele - falta alguma coisa pra você decolar

longa pausa

eu  - acho que não
ele - então decola!

decolei com o coração na boca, tomei umas pancadas devido a turbulência mas foi um voo tranquilo e o pouso melhor ainda. Asa desmontada chega o Ricardinho e vem falar comigo.

ele - como foi o voo
eu  - tranquilo, boa decolagem, bom voo, bom pouso.
ele - cara coloca uma coisa na cabeça, NUNCA MAIS ENTREGUE A O SEU VOO PARA NINGUEM, VOCE É QUEM ESTA NO CONTROLE DO VOO, A RESPONSABILIDADE SOBRE O QUE ACONTECER DURANTE O VOO É SUA. Eu não vou formar um cara e nem dividir o ceu com alguem que toma decisões baseado na iluminação divina.

Amem!